domingo, dezembro 30, 2012

As Trevas da Paixão - Gil #2

Quanto a vocês não sei, mas eu odeio hospitais. A sério, só de ver o edifício a aproximar-se, fico com a sensação que o coração me vai sair pelos olhos, de tão descontrolado que bate. Mas pronto, como o que tem de ser tem muita força, lá vou eu ter de me controlar e rezar para não desmaiar algures na sala de espera. Numa outra vida certamente fui hipocondríaca ou coisa parecida…

Depois de pagar ao taxista e de ter preenchido a ficha no balcão da recepção, escolhi uma cadeira no funda da sala de espera, tentando não ficar demasiado próxima das pessoas de nariz vermelho e quinhentos lenços nas mãos e bolsos. Tinha um pulso fracturado e chegava-me. Dispensava perfeitamente uma dose de viroses gripais.
           Estava entretida a enviar uma sms a Diana, avisar que apesar do Azar ser o meu novo companheiro, o taxista não tinha fugido comigo, nem me tinha assediado, nem tínhamos tido um acidente qualquer… quando uma voz feminina se fez ouvir através das colunas chamando por mim.
           Levantei-me assim que o «Eloisa» suou nas colunas mas confesso que fiquei confusa sem perceber sala seis ou sala dezasseis, porque no instante em que a menina dava instruções para onde me deveria dirigir, as três crianças da sala de espera, bebés recém-nascidos desataram num concerto a três, com as goelas bem abertas e sincronizadas.
Encolhi-me com a choradeira desenfreada enquanto me afastava, compadecendo-me das mães aflitas que davam voltas e voltas aos embrulhos a ver se os calavam de alguma forma. Apesar da choradeira ser intragável, confesso que fiquei uns segundos a olhar para aquele gesto super híper protector das mães a tentarem sossegar os seus bebés.
Quando despertei daquela ligação maternal despropositada encontrava-me entre dois corredores. Boa, e agora? Enquanto me tentava certificar qual a sala a que me deveria dirigir, fui avançando para o meu corredor mais à direita. Bom, de certeza que seria a sala dezasseis. Ou não?
Bom, se não fosse, não me restaria outro remédio se não voltar ao ponto de partida. Mas também, que raio de hospital era aquele que não tinha sequer uma única indicação para sabermos onde nos encontramos. Se soubesse que aquilo era assim, tinha trazido o GPS. Bolas, era preciso ter um óptimo sentido de orientação para não nos perdermos naqueles corredores. E adivinhem lá? Eu não tenho nenhum…
E pensava eu que o facto de ter encontrado um bom taxista e não ter sofrido nenhum assalto ou acidente no percurso de casa até ao hospital era sinal que a maré de azar tinha passado. Pois, vai sonhando Eloisa, vai sonhando.
 
Estava prestes a dar um grito e a perguntar se estava alguém, quando um ruído veio ao meu encontro. Boa! Ruído era bom. Se calhar quem arquitectou aqueles corredores queria que os doentes praticassem um pouco de exercício físico antes de caírem para o lado das suas doenças. Bolas, aquilo parecia a meia maratona corredores hospitalares!
Continuei pelo corredor na esperança de ter finalmente chegado ao meu destino, na certeza que ouviria um raspanete por ter demorado imenso e que tinham imensos doentes para atenderem, que o hospital não trabalhava só para mim… quando contornei a esquina e… Oh Meu Deus! Tinha-me enganado! Aquilo definitivamente não era a ortopedia. Como raio tinha eu ido parar à pediatria?
Havia mães e crianças por todo o lado. As paredes pintadas de rosa e azul-bebé, com ursinhos e carrinhos, bonecas e mais sei lá o que…Bebés de colo, recém-nascidos, crianças pequenas e irrequietas a correrem de um lado para o outro enquanto as mães, umas com boa cara outras nem por isso, discutiam o melhor creme para assaduras de rabinhos e a melhor maneira de controlar uma crise de cólicas.
Vêem? O meu sentido de orientação é nulo, já nasci sem ele, mas o meu sentido de absorção de conversas alheias quando me encontro perdida é um espectáculo!
- Só a mim Meu Deus, Só a mim… - enquanto choramingava a minha falta de sorte e avançava às arrecuas para sair daquele cenário, para encontrar o caminho que me levaria à ortopedia, vejo duas crianças a correrem na minha direcção com uma terceira atrás delas.
Novamente o meu cérebro neste tipo de situações é muito perspicaz e mesmo antes de acontecer, eu já sabia que em menos de um minuto estaria estatelada no chão, atropelada por três monstrinhos com pouco mais de quatro anos.
Dito e feito, levantei a mão engessada o máximo que consegui e quando eles embateram contra mim, caímos os quatro no chão, eu a servir de colchão às crianças.
As respectivas mães correram de imediato em meu auxílio, repreendendo as crianças e desculpando-se que quando estão doentes são uns terrores. Pois, eu nem queria saber de como seriam quando estavam a transbordar saúde…
Esperneei um pouco no chão, tentando levantar-me, coisa que não dava muito jeito quando se bate com as costas no chão em cheio e não se tem uma mão para dar apoio… quando um par de pernas azuis surgiu junto da minha cabeça.
 
 
 
 

1 comentários:

  1. Bem coitada da Eloisa, o azar anda mesmo com ela :s mais um capitulo muito bom, pode ser que a Eloisa entre melhor no ano de 2013...além disso bom ano para vocês e mais uma vez obrigada por nos brindarem com uma história tão engraçada.

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