sábado, janeiro 12, 2013

As Trevas da Paixão - Gil #4

Tal como estava à espera, depois de ter tirado aquela porcaria do gesso a minha vida ficou muito mais facilitada. Quase normal. Quase.

Sim, não pensem que é fácil recuperar de uma situação igual à minha. Apesar de já não ter a monstruosidade branca que me causava terríveis comichões a lembrar-me do sucedido, tenho uma memória de elefante e ainda acordo de noite a pensar que aquela louca me vai entrar casa dentro e me bater novamente.
Mas se pensam que os meus pesadelos se restringem à mulher oficial do outro, enganam-se redondamente. Não é que agora para além de pesadelos no primeiro sono, tenho tido sonhos eróticos, quentes e molhados com o Dr. Gil!?
Eu já gritei, já esperneei, barafustei, bracejei e espetei com a cabeça na parede. Devagarinho, como é óbvio, mas nem assim aquele pedaço de mau caminho com cabelo ruivo e olhos avelã me deixa em paz.
Para piorar, em vez de ter deitado fora o post hit dele, não. Fui cola-lo na porta do frigorífico, para me lembrar dele de todas as vezes que fosse beber água ou buscar alguma coisa para comer.
Estava mesmo a ficar ché ché da cabeça. Estava mesmo. O melhor era pedir já o internamento na psiquiatria antes que a minha doença, fosse ela qual fosse, avançasse e eu acabasse por me desgraçar mais uma vez…
Escusado será comentar ou trazer ao assunto a opinião da minha queridíssima amiga Diana. Porque para ela, estes «sonhos vs pesadelos», são como uma espécie de pedido de ajuda para me libertar de vez do meu trauma.
« - Tu não percebes mesmo nada! – disse Diana, descolando o papel amarelo da minha porta do frigorífico – Ele achou-te piada. Tu dizes que ele é bonito. E não trabalha nem está ligado ao hotel, logo….
- Logo…. – imitei-lhe a voz e revirei os olhos.
- Logo, liga-lhe e marca um café, um lanche, uma saída… qualquer coisa. Aproveita amiga, ainda para mais ele é pediatra. Pode dar imenso jeito quando fores mãe.
- Diana, quem precisa de ser internada és tu!
- Talvez, mas não para já… - Ela sorriu-me e sentou-se junto a mim no sofá – Pronto, não penses a longo prazo. Pensa no aqui e no agora. Qual é o problema de marcarem uma saída?!
- A Matilde pareceu interessada nele… - disse tentando mudar de assunto.
- A Matilde parece interessada em tudo o que tenha pila, esquece-a. Que horror de mulher, que coisa mais sem sal…
- Não sejas má, Diana. Ela é uma porreira…
A minha amiga Diana torceu o nariz e fez-me uma careta de nojo. Diana não gostava da Matilde nem à chapada. Nunca se tinham dado as duas.
                - Mas esquece lá o pão sem sal e foca-te no que te estou a dizer. – disse ela quase a choramingar de desespero pela minha reticencia ao sexo masculino – Tenta. Ou vais para freira agora?
                - Não, não vou para freira, mas…
                - Mas nada… como é, marcas tu ou marco eu?»
Certamente já sabem quem acabou por ganhar a conversa, não já? É que Diana tinha mesmo lata suficiente para chegar ao hospital e perguntar de piso em piso pelo Dr. Gil e embaraçar-me de tal maneira que nem na minha próxima encarnação estaria a salvo de tal humilhação. E também, eu sabia que no fundo não podia generalizar. Afinal havia homens bons no mundo, certo?

Só esperava que a Matilde não me aparecesse à frente…
- Eloisa!
Estava eu a dizer?!
- Olá Matilde. Tudo bem?
- Tudo. O que estás aqui a fazer? Enganaste-te no piso novamente? – disse ela com um ar de riso irónico.
- Não, na verdade a minha presença aqui é propositada – mostrei-lhe o braço já sem gesso – Vim ter com o Gil.
Ora toma, que já almoças-te.
                - O Gil…. Ah… vocês ficaram amigos, foi?
Hum, depois desta pequena observação, comecei a perceber melhor o ponto de vista implicante da Diana.
                - Sim. – disse eu com toda a normalidade do mundo. - Combinamos um café.
                Escusado será dizer que apesar do sorriso 3D que ela emanava, o cheiro da inveja e dor de cotovelo ondulavam no ar, tão espesso e tão visível como o nevoeiro.
Eu, preparava-me para lhe dizer que o melhor era esperar pelo Gil no parque de estacionamento ou no bar do hospital quando ele apareceu.
                Estava ainda mais lindo do que naquela primeira vez que nos vimos. O cabelo ruivo brilhava debaixo das lâmpadas dos corredores dos hospitais. A farda azul clara, debaixo da bata branca e o estetoscópio pendurado à volta do pescoço, despertou em mim um sem número de reacções e fantasias sexuais, que giravam todas em volta daquela linda bata branca...
Maldito trauma.Malditas tremuras. Maldito desejo…
                As minhas mãos humedeceram. As minhas pernas tremeram, os meus joelhos fraquejaram e só não gemi por vergonha. Ele vinha a sorrir, acompanhando uma jovem mãe, com o seu bebé no colo, completamente deliciada com a atenção que ele lhe dedicava e eu ali, a desejar rasgar-lhe a roupa, puxa-lo para um quarto de arrumos e entregar-me a ele ali e agora…
                Sim, sinceramente devia começar a providenciar o meu internamento. Não devia estar com aqueles pensamentos. Não ali. Não agora. Não com ele. E muito menos não depois do que me tinha acontecido há bem pouco tempo.
Mas onde raio tinha a minha cabeça, bolas?!
                O Dr. Gil afagou uma vez mais a delicada cabeça do bebé e sorriu à jovem mãe em despedida, quando levantou os olhos e me viu, ali, especada a olhar para ele, como se fizesse parte da pouco mobília dos corredores da ala pediátrica.
Não vos sei explicar em detalhe o que senti naquele momento, mas neste momento ocorre-me uma palavra que talvez consiga passar a ideia do que aconteceu entre mim e ele naquela simples troca de olhares: fogo. Sim, eu ia-me incendiar se ninguém abrisse uma janela ou me atirasse para debaixo de um chuveiro… Estava a arder. Literalmente. E não era a única.
                Enquanto Gil humedecia os lábios e me tirava as medidas de forma descarada, Matilde ficou vermelha de raiva e com um brusco com licença, retirou-se quase a correr, deixando-nos a sós.
                - Olá. – disse, para tentar pensar noutra coisa que não fosse despi-lo e perder a cabeça.
                - Olá. – disse ele no seu maravilhoso sorriso enquanto se aproximava. - Estava com medo que não viesses.
                - Eu… Eu… Aqui estou.
Eloísa, Eloisa, que coisa mais linda de se responder, admoestou o meu subconsciente enquanto batia com o pé no chão.
                - Aqui estás. – constatou ele com deleite lascivo – Não me demoro. Vou só trocar de roupa.
“Trocar de roupa”, pensei para comigo, e ele a dar-me ideias…
                - Eu espero por ti lá em baixo, no bar. – disse-lhe, gesticulando, apontando na direcção do elevador.
                - Não. Quero dizer, não é preciso. Podes vir comigo. É um minuto para trocar de roupa. Não me demoro, prometo.
                Gil sorriu-me e eu derreti, como uma perfeita idiota, deslizando atrás dele por um outro corredor que levava directamente a uma pequena sala de estar com uns sofás e uma mesa redonda com cadeiras. Nessa mesma sala havia uma porta que levava a uma espécie de vestiário.
                Preparava-me para me sentar numa das seis cadeiras disponíveis, quando fui arremessada contra a porta que se abriu de rompante. Da minha boca saiu um grito meio histérico, meio sexual, que foi imediatamente calado pelos lábios dele.
Gil beijou-me com urgência. Com possessividade. Com uma masculinidade que me voltou a deixar os pulmões sem ar. Quanto mais me beijava, mais me apetecia beija-lo.
                De repente, o belo e calmo doutor, com olhar terno e meigo, ganhou vida e transformou-se num verdadeiro felino. Espalmou-me contra o armário dos cacifos e percorreu-me todo o corpo com aquelas mãos longas e suaves. Agarrou-me na camisa e com uma fome crua e descarada, enfeitiçou os botões que saltaram das casas, expondo-me o sutiã, os altos dos seios e a barriga.
Atacou-me o pescoço. Beijou-me o maxilar e mordeu-me o lóbulo da orelha. Puxou-me o lábio inferior e lançou-se ao meu botão das calças…
 Num minuto estávamos de pé, a olharmo-nos no corredor do hospital, no minuto seguinte estávamos deitados no chão, nus, em êxtase puro e sexual...
E eu só podia estar louca…

1 comentários:

  1. Mais um capitulo espectacular :) A Diana é simplesmente fantástica...adoro-a xD e a Eloisa coitada acaba sempre por sucumbir será que desta vez terá mais sorte? espero que sim coitada depois do ultimo trauma já merecia acalmar um pouco...que venha o próximo capitulo :D

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