quinta-feira, janeiro 10, 2013

Entrevista a Joaquim Fernandes autor do livro "Histórias Prodigiosas de Portugal - Mitos & Maravilhas"


Boa Noite queridos leitores,
hoje apresento-vos o escritor Joaquim Fernandes, autor de "Histórias Prodigiosas de Portugal - Mitos & Maravilhas".

1º Fale-nos um pouco de si, o que faz, o que gosta e detesta.

R. - Sou um portuense de gema, "tripeiro" de coração, numa cidade recheada de esquinas do Tempo pouco iluminadas pelas leituras críticas. Viciado em bibliotecas e descobertas cobertas de pó, que nunca ninguém leu.
Interessado nas questões menos conhecidas e estudadas da História, analisei os comportamentos dos nossos religiosos nos ambientes conventuais, de que resultou a minha dissertação de mestrado posto em livro
com o titulo "Silenciados e silenciosos"; investi depois na descoberta do Imaginário Extraterrestre na Cultura Portuguesa, - o tema do meu doutoramento, a primeira no seu género a ser apresentada numa Academia europeia -uma investigação prestes a sair em livro sob o título "Moradas celestes", com a chancela da Âncora Editora.
De gostos pessoais e intransmissíveis, posso dizer que aprecio as pessoas genuínas e verdadeiras; a coragem de ser diferente e a ousadia que rompe avenidas para o futuro ou futuros, conforme
os queiramos construir ou apenas suportar. Gosto da bravura e da aridez das montanhas nortenhas, mas também sou capaz de ser seduzido por um por-do-sol nos horizontes de uma praia alentejana. Ler é uma devoção e uma comunhão diária que santifica os meus dias. Detesto incapazes, manipuladores e dogmáticos.  

2º Uma vez que vamos falar um pouco de livros, de que género gosta?

R. - Aprecio o ensaio histórico, mas também invisto noutras áreas das ciências humanas e sociais. Mas leio poesia e recolho o melhor dos nossos maiores poetas. Romances de ficção histórica, científica e policiais colhem também as minhas preferências.

3º Algum autor preferido? Porquê?

R. - Fernando Pessoa, sem dúvida, figura no topo das minhas leituras, porque encarna a multiplicidade dos seres que podemos abrigar em nós sem mesmo os reconhecermos.

4º Tem algum livro que recomendaria?

R. - Entre tantos títulos...talvez "Uma campanha alegre", de Eça de Queiroz, pela sua mordacidade elegante, sem paliativos, face à sociedade da sua época. Algo que pela sua elegância linguística o torna um clássico
exemplar da crítica social.


5º Como surgiu a ideia para o livro “ Histórias Prodigiosas de Portugal - Mitos & Maravilhas”? Alguma coisa que lhe tenha inspirado?

R. - Foi uma construção lenta, na sequência de bastantes anos de pesquisa e recolhas documentais. Achei que a nossa leitura da História nacional merecia outro olhar que não fosse apenas a dimensão política, social
e económica, de resto muito importantes e alvo de muitas abordagens na nossa historiografia. Esta minha visão é como um olhar sobre a ponto de um iceberg mental, na sua maior parte escondida sob o mar das atitudes mentais e sociais controladas ou o politicamente correto. As crenças de cada um, de todos nós, enquanto corpo coletivo, acabam por decidir muitas das consequências e decisões políticas, tal como se expressam em variadas páginas do meu livro.

6º Como foi todo o processo desde que terminou de o escrever até ser publicado? Pode falar um pouco sobre isso?

R. - Parti da verificação de uma  realidade: a natureza religiosa profunda de muitas das atitudes que decidiram actos políticos. Facilmente se percebe que existe um laço entre o chamado sobrenatural e aquilo que hoje
definimos como Estado ou mesmo Nação. Tentei construir uma narrativa das vertentes fantásticas da nossa génese enquanto Nação, assentes nessas crenças arcaicas que fomos herdando de outros povos que passaram pelo espaço ibérico, muito antes de existir Portugal independente. Daí a elaboração de ste roteiro de mitos e maravilhas de que nos alimentamos ao longo de séculos. E que persiste nos nossos dias...

7º Tem algum conselho para jovens que estão a entrar neste mundo novo e difícil que é, para publicar um livro?

R. - Há que ser muito persistente e insistente. Trabalhar sem esmorecer, sem acreditar que já sabemos tudo e que a nossa obra é a mais original e perfeita. Nunca estar satisfeito com o que produzimos.

8º Pode falar um pouco sobre o livro Histórias Prodigiosas de Portugal - Mitos & Maravilhas, para quem ainda não o conhece?

R. - Aqui se apresenta o retrato de um País digno de Alice, tirado em pose no Passado e que nos explica de que modo e por que razões é que chegamos ao Presente, neste Estado, por caminhos e agentes tão crédulos e piedosos na regência dos negócios públicos: crenças, mitos e maravilhas cozinhados a lume brando em pactos partilhados entre o céu e o inferno, em sobrenatural e fantástica existência nossa, abençoada a incenso ou a enxofre, com anjos e demónios, par a consolação e provimento da Grei. Nas páginas desta "História Prodigiosa de Portugal" o leitor irá conhecer personagens e eventos capitais que marcam este milenar consórcio de Portugal com os universos do sobrenatural e da magia:
Pedimos de empréstimo Ulisses e outros deuses menores para reconstituir no solo pátrio o Éden bíblico; ousamos "nacionalizar" a submersa Atlântida e a plataforma continental há mais de século; requisitamos ajuda às tropas celestes e aos eclipses para levar de vencida o Mouro invasor; "senhoras luminosas" dispensaram-nos ajuda médica nas frentes de combate contra o infiel; os nossos soberanos acediam à pia batismal, ao altar e ao trono após consulta aos céus e ao astrólogo régio; comerciámos as nossas mulheres com o diabo e o seu séquito no silêncio dos conventos; as nossas batalhas e os nossos exércitos regulamentavam-se pela aparição dos cometas; traficámos falsas relíquias, aos milhares, em piedosa contrafação controlada pela Corte e apaniguados; salvámos os nossos prisioneiros dos cárceres da mourama em instantâneos teletransportes; multiplicámos falsos Sebastiões desejados em farsas e tragédias; enviámos homens santos aos mares do Oriente domesticar oceanos e pescarias; replicámos toda a sorte de amuletos e mezinhas para consumo de reis e aristocratas...
Se fossemos coevos de Camilo Castelo Branco subscreveríamos a camiliana sentença: "Uma nação que assim está sob fiscalização divina não pode cair como Cartago ou Roma...


9º Tirando esta obra, tem mais alguma? Quais?

R. - Este é o 14 título, de uma obra dedicada sobretudo à História e ao Ensaio. Em 2008 fiz a minha estria na ficção, com o romance histórico "O Cavaleiro da Ilha do Corvo", baseado numa investigação exaustiva sobre o conhecimento antigo do Oceano Atlântico e que aponta para descobertas anteriores ao ciclo das navegações portuguesas dos séculos XIV e XV e documentam  no meu entender, a descoberta anterior das ilhas atlânticas, Açores
incluídos. Entre outras obras mais emblemáticas posso citar "O Grande Livro dos Portugueses Esquecidos" ou "Halley, o cometa da República", que tiveram alguma aceitação pública.  

10º O mais importante de tudo, onde podemos encontrar à venda?

R.- De um modo geral, os interessados podem encontrar estas obras nas livrarias FNAC, Bertrand e também na livraria online WOOK.

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