domingo, março 17, 2013

Trevas da Paixão - Rafael #3


   Não sei a quanto tempo estou a correr, só sei que não posso voltar atrás, não posso parar, porque se o fizer eles apanham-me. E eu não quero, bem o meu corpo quer, mas eu não. Não sou esse tipo de mulher, não sou Diana. Para mim é de todo impossível, uma mulher com dois homens ou duas mulheres com dois homens, no mesmo quarto! É incorrecto  escandaloso, vergonhoso! Pelo menos é o que grita a minha mente, se bem que o meu corpo diz exactamente o contrário, que decerto é bom, prazer a dobrar, uma viagem as estrelas com direito a uma dança infinita. Como pode ser que uma só pessoa, em uma determinada situação, se sinta dividida em duas com opiniões diferentes?
   Sou arrancada dos meus devaneios quando vejo a minha sombra no meio de luzes e logo de seguida um barulho, um alarme? Não, céus! Sirenes!  Quando o jipe se mete a meu lado eu paro de correr. A agente que vai de pendura olha para mim e a sua expressão seria mostra um brilho de divertimento.
   -Boa Noite! Pode-nos acompanhar? – inquire uma voz masculina e só então reparo que outro agente da autoridade, já se encontra a meu lado, com um casaco nas mãos, o casaco dele.
   Aceno com a cabeça e ele mete este sobre os meus ombros, abre a porta do jipe e ajuda-me a entrar, fechando a porta de seguida.
   Levo com o bafo quente da sofagem o que me faz recordar de novo que estou nua, bem não propriamente, mas estar de lingerie ou nua e quase igual, e completamente encharcada e sinto-me corar e muito envergonhada.
   -Por momento pensei que fosse surda ou sonâmbula. – comenta a agente – é que já estamos atrás de sim a uns quinze minutos. E quanto mais aproximava-mo-nos mais você corria.
Apesar de ter dito num tom calmo, uma pontada de gozo fez-se notar.
   -Foi atacada? – questiona o guarda, observando me pelo espelho retrovisor, abano a cabeça em sinal de negação. Por fim quando chegamos ao posto da G.N.R, sou conduzida para uma sala, os restantes guardas que se encontram de serviço olham para mim com os olhos a saltar das orbitas. Afinal de contas não deve ser todos os dias que aparecem uma mulher nua a meia da noite não é?
   -Sente-se aqui. Quer um café, chocolate quente ou chá?
   -Chocolate quente se poder ser. –digo meio rouca, amanha a gripe vai ser em grande, penso para comigo.
   -Então? Arrastaram essa de uma boate? – pergunto um homem do lado de fora da sala
   -Não! Encontra-mo-la na rua. – informa a guarda que ficou do lado de fora da sala.
   - Estou a ver, violência domestica? – insiste outro homem
   -Não me parece, não está ferida, aparentemente. – informa o guarda que foi buscar o meu chocolate quente, pelo menos a voz parecia a dele.
   -Para que tanta pergunta? Veio de alguma festa, álcool e drogas, faz-lhe o teste e verás. – diz um homem num tom rude e dou graças a deus por não ter sido apanhada por ele.
   -Não preciso que me digas como fazer o meu trabalho! – rosna o guarda, enquanto entra na sala com um copo de plástico na mão e fecha a porta com o pé.
   -Aqui tem. – põe o copo a minha frente e puxa uma cadeira para se sentar. Ajeita umas folhas e tira a tampa de uma caneta. – Bem, sabe que terei de fazer uma questões certo?
   Aceno com a cabeça e ele volta a olhar para os papeis.
   -O Seu nome?
   -Eloisa Santeira.
   -Idade?
   -25anos
   -Sabe-me dizer o que aconteceu? – fico calada, como é que devo explicar o que aconteceu? Vais achar-me maluquinha. – Eloisa, sabe que andar em lingerie na via publica é crime, não sabe? é o mesmo que andar nua. – olho para ele e aceno de novo – Disse-me que não foi atacada, foi posta na rua pelo seu namorado?  – volto a negar. Ele suspira e encosta-se a cadeira, cruzando os braços enquanto me observa. – Olhe, vou dar uns minutos para você pensar no que aconteceu, pois pode estar em choque e não se recordar bem, daqui a pouco volto para continuarmos está bem? – aceno com a cabeça e vejo que ele se levanta e dirige-se a porta, para e olha para trás – Eloisa, aconteça o que acontecer, ninguém lhe vai fazer mal. Acredite em mim. – dito isto ele sai porta fora.
   Em choque? Era dizer pouco, estava era traumatizada para o resto da vida! Como é que Diana me fez uma coisa destas?
   -Tem aqui um cobertor e uma toalha para se secar. – informa o guarda e eu dou um salto na cadeira. – Calma, desculpe, não pretendia assusta-la – dito isto sai porta fora a deitar fumo pelas ventas literalmente. Sou o tema de conversa no posto, mesmo com a porta encostada dava para ouvir. Mas ignoro tudo e dou por mim a pensar em tudo o que se passou e como vou sair desta, porque não voltei para casa? Talvez por não teres chaves? Ok, talvez para o hotel? Seria lindo chegares lá nua, excelente para seres despedida! Fico irritada comigo mesma e com a minha consciência que insiste em gozar comigo! Mais valia ter ficado deitada ou fugido para o quarto e trancar a porta!
   -Idiota!
   -Desculpe? – diz uma voz meiga, o que me levantar a cabeça e olhar para o recém chegado – Sou amigo do Felix, o agente que a trouxe para aqui, estava de passagem e ele comentou comigo o que aconteceu. – sinto-me a ferver de vergonha. – Acredito que o Idiota não seria eu, pois não? – questiona e sorri – É que se for, também não será a primeira vez que me chamam isso, mas por norma nunca é os meus clientes. Sou advogado – informa – Rafael e a menina é Eloisa, correcto? – questiona e eu aceno – Independentemente do que aconteceu, tal como o Felix disse, andar na via publica de roupa interior é crime, atentado ao pudor, logo vai precisar de um advogado. E eu posso ajuda-la. Conte-me o que aconteceu, está bem?
   -Não posso ir a casa? Tomar… - as palavras morrem na minha boca pois lembro me de que não tenho chaves.
   -Que se passa?
   -De momento não me sinto bem, não consigo lidar com isto hoje. – e começo a chorar desalmadamente. Dois braços fortes rodeiam os meus ombros num abraço apertado.
   -Shh.. calma. Está tudo bem. Espere um pouco.
   Ele solta-me e sai da sala, pouco depois regressa.
   -Venha. – Levanto-me da cadeira ainda com o casaco vestido e a manta cai no chão.
   -Onde vamos?
   -Comer alguma coisa, tomar um banho quente e descansar. – sorri o que o faz parecer um menino traquinas e que por sinal me deixa mais calma.

***

0 comentários:

Enviar um comentário