quarta-feira, dezembro 02, 2015

Opinião Cartas de Amor aos Mortos de Ava Dellaira [Editorial Presença]

Obrigada a Editorial Presença, pela oferta deste livro.
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Bem, sinceramente não sei por onde começar. Mas acho que vou iniciar esta opinião pelos meus receios iniciais.

Para quem me conhece, já sabe sem sombra de duvidas o meu género literário, gosto de narrativas envolventes, românticas com um toque de humor a mistura. Pode ir do Romance histórico ao Romance sobrenatural. Mas nunca em circunstancia alguma géneros que tenham um toque de "realidade".

Quando a Editora Sugeriu-me este, confesso, fiquei de pé atrás, não o conhecia e pelo titulo? Não me despertava interesse algum. E assim que iniciei a leitura...benzi-me e pensei... Santinhos da Leitura, ajudem-me a conseguir ler este livrinho, para conseguir fazer esta opinião. Juro que o fiz, até o meu marido olhou para mim, leu o titulo e começou a rir, algo do género.... Deve ser verdade que leias isso. 

E eu só vos posso dizer.... sabem o que é levar uma chapada sem mão? Agora coloquem isso num livro... isso mesmo, um livro a dar-vos uma chapada sem mão.
Iniciei a leitura com algum receio, quando verifiquei que realmente a narrativa é em "cartas" e eu gosto de saber o que se passa, gosto de acompanhar o "dia a dia" da personagem no livro. E cartas? Va lá, elas não nos dizem muito num livro, tornam-se massantes, irritantes e repetitivas. E foi a meio do livro que eu pensei, bolas! Ela deu-me completamente a volta, como é possível isto?

A verdade é que a Ava, agarra o/a leitor/a com unhas e dentes em cada página, conheci nomes que nunca tinha ouvido falar e no qual fui pesquisar [alguns, até agora]. É de todo impossível não amar este mundo que a autora, Ava Dellaira, cria para nós. É uma viagem sem retorno, Cada carta, cada desabafo deixa-nos a pensar.
Afinal de contas quem é que nunca perdeu alguém especial? Quem é que nunca sentiu aquele vazio no peito? Quantas vezes não olhamos para o telemóvel, ou telefone, ou até mesmo para a porta a espera que aquele alguém ligasse ou chegasse?

Eu pelo menos já, e não foi bonito. Aos meus 18 anos mudei-me para um andar novo, deixei os meus amigos da minha rua, e sentia-me uma estranha naquele prédio novo, naquela rua nova. Com as mudanças e limpezas raramente saia a rua para conhecer os jovens dali. Até que certo dia, a minha mãe chegou ao meu quarto e disse: Toma, o vizinho do lado mandou-te isto para te distraíres. E eu fiquei a olhar para o Discman e os fones tão bem enrolados na caixinha. Escusado será dizer que fiquei completamente eufórica. E quando fui uma vez ao terraço, para estender a roupa, vi um rapaz por volta dos seus 24 anos, no terraço dele [que era ao lado do meu] ele olhou para mim e sorrio, eu claro, fiz cara de má agarrei no alguidar da roupa e vou para entrar em casa, até que ele me fez parar com o seguinte: Então, o Discman ainda toca? Precisas de pilhas? E sem entender bem como nem porque, tinha sido ele a emprestar-me o Discman dele, fiquei tão envergonhada e mal consegui dar uma resposta. A partir daí todas as noites a gente sentava-se no muro que dividia os terraços e falávamos até das estrelas. Conversas sem qualquer nexo, mas que sabia bem ter alguém com quem falar e ainda por cima com o vizinho 6 anos mais velho que nós. Uau, até aquela fatídica noite. Ele tinha vindo passar ferias a casa [tinha ido para França 3 meses antes em trabalho], a mãe dele tocou a nossa campainha muito chorosa, os meus pais e a mãe do Sérgio saíram disparados pela madrugada e eu fiquei em casa a tomar conta da minha irmã mais nova, e do irmãozinho dele de 4 anos [mais ou menos] na altura. Eu sabia o que se tinha passado, tinha ouvido a Lena dizer que o Sérgio tinha tido um acidente de carro. Fiquei preocupada, obvio, mas pensei... ele está bem, logo ele está aqui para se meter comigo e irmos beber um café. Mas ele nunca chegou aparecer, a noite esperava por ele no terraço e nada. O Sérgio tinha morrido nesse acidente... morreu no local. O Mais estúpido da situação é que tínhamos discutido na noite anterior, bem eu discuti, ele riu-se e disse: "Bonequinha, tens cá um mau feitio ein" Durante vários meses, anos, todas as noites eu sentava-me no muro do nosso terraço e esperava.... e esperava... e nada. 

Por isso é que este livro me tocou tanto, não há palavras. Os sentimentos descritos, os desabafos, aquele comportamento que ninguém entende...aquela espera, aquela negação do que aconteceu e pensar... quando acordar vai estar aqui. Supostamente é um género literário que tanto evito, mas este livro é impossível ignorar, é impossível ter na prateleira a ganhar pó sem o ler.

A Laurel é uma jovem que passa por tudo e mais um pouco, mas apesar de alguma fraqueza ela é uma jovem forte, com a cabeça no lugar com a certeza do que é certo e o que é errado.
As personagens deste livro tão bens descritas, criadas de forma única, todos os personagens são essenciais neste livro. E de uma maneira estranha conseguimos identificar-nos um pouquinho, mínimo que seja, com cada um. Só houve um que me deixou de pé atrás, o Sky, mas cada um tem os seus demónios, cada um tem a sua maneira de lidar com as situações. E o Sky teve a dele, um pouco estranha, demasiado egoísta, mas é a dele.
Fiquei feliz, por a Laurel ter conseguido se livrar do demónio que a assombrava, ter conseguido contar a verdade daquela noite.

Gostei acima de tudo, da autora usar famosos já falecidos, e conhecer-mos eles um pouco mais, desde o Kurt Cobain; Judy Garland; Amy Winehouse; River Phoenix entre outros.

É um livro que recomendo vivamente a lerem, pois só quando o lerem entenderão toda a magia que nele se encontra e a forma única de ele nos agarrar até a alma.

É sem qualquer duvida uma autora que irei manter debaixo de olho.

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